Tuesday, November 21, 2006

Relato de viagem - Rwanda, Por Grace Fragoso



Grace Fragoso

Grace Fragoso é missionária com a Orphanos Foundation, baseada em Memphis, Tennessee, USA. Ela é filha de missionários e viveu no Lar Batista, Lar que seus pais fundaram para assistir a órfãos no sul do Brasil. Eles já assistiram mais de 500 crianças em 30 anos! Sua paixão por Deus, intercessão e seu povo a tem levado a muitos países onde ela ajuda orfanatos desenvolver planos de auto-suficiência através de microempresas e investimento em educação. www.orphanos.org




Caros leitores da Teia de Oração,

É um prazer muito grande poder escrever esse artigo e lhes informar sobre a minha ultima viagem missionária a Ruanda, por ocasião do 12˚ aniversario do genocídio que aconteceu naquele país em 1994.

Quero informar de antemão que o conteúdo desse relato é gráfico. Saibam também que nem mesmo um décimo do que li e vi está contido nesse relato. Ao ler, lembre-se que isso é historia contemporânea, e que as suas orações hoje ainda podem afetar sobreviventes desta situação.

A Historia
Ruanda é um pequeno País, com população semelhante a da cidade do Rio de Janeiro, 8+ milhões de pessoas. Ruanda, na África Central, foi colonizada por países europeus declarando sua independencia em 1962 .As línguas oficiais de Ruanda são: Francês, Inglês, Kinyarwanda além de outros dialetos tribais.

Outro conceito difícil de entender é que estes estrangeiros desenvolveram uma maneira de “catalogar” os nativos de acordo com sua aparência. Eles desenvolveram um sistema para medir o diâmetro da cabeça dos nativos ,também o comprimento de seus rostos e a largura dos narizes. Baseados nisso, eles escolheram os que mais se aparentavam com o padrão aceitável europeu e trabalharam com eles para tomarem a frente na liderança do País. Estava estabelecida assim a diferença entre Hutus (80%) e Tutsis (20%)
Para se ter uma idéia da gravidade do problema, se esse mesmo sistema fosse adotado no Brasil hoje, eu e meus irmãos seriamos colocados em tribos diferentes, por traços básicos da nossa aparência que não nos fazem melhores nem piores, mas que são características dadas por Deus a cada um de nós.

Por muitos anos houve uma lavagem cerebral que aconteceu lentamente, propagando a idéia de que os Tutsis eram os “baratas”, aquilo que não prestava na sociedade e que deveriam ser eliminados. Por muitos anos essa ideia permeava varias camadas da sociedade a ponto que todos documentos e formas de identificação eram claramente marcados como HUTU ou TUTSI, palavras hoje consideradas inaceitáveis.

Gradualmente o plano foi levado a cabo quando da ocasião do acidente de avião que matou o presidente Hutu, Juvenal Habyarimana, em 1994. Com um anuncio divulgado nas ondas do radio foi dado um comando para que o “trabalho” fosse feito. Num ato macabro pessoas começaram a matança. Homens armados com foices, facas e enxadas saíram pela cidade matando a todos que eles reconheciam como Tutsis. Após o acontecido foi descoberto que cada pessoa tinha suas listas com nomes de pessoas que eles deveriam eliminar. Eles tinham documentos como os 10 mandamentos dos Hutus. Difícil de se ler, pois se trata de maneiras crieis para se lidar com os Tutsis. A crueldade era tal, que a lista dada a cada homem começava com seus melhores amigos, pra evitar que o plano de ação vazasse para os de fora. Além de matar os homens em muitas vilas, eles também atraíram pessoas para cidades como Butare, onde eu fiquei por duas semanas. Uma vez que as pessoas estavam na cidade, as estradas de acesso foram destruídas, de maneira que não havia saída da cidade. Ali ocorreu a maior parte da matança, e como se não fosse suficiente, homens infectados com o vírus da Aids, estupraram as viúvas e moças e também mataram muitas crianças. Muitas foram arracandas do útero de suas mães. Coisa difícil de se acreditar. Confesso que varias noites eu passei acordada pois cada barulho no nosso hotel, parecia me dizer que a situação poderia acontecer novamente. Estávamos no centro onde tudo havia começado o simples fato de ouvir vozes no radio me aterrorizava, mas Deus nos protegeu e nada de mal aconteceu!

O chamado: Tiago 1:27

Esta é a pura religião, visitar órfãos e viúvas na suas dificuldades...”
Tive a oportunidade de trabalhar com sobreviventes dessa atrocidade, de ouvir suas estórias e de aprensetar a esperança que existe em Deus. Tive a chance de oferecer um abraço e uma palavra de conforto a elas e a pergunta constante que eu ouvia era: Você veio por que tem curiosidade, ou você se importa conosco? Eu nunca vou me esquecer dessa pergunta ou do olhar nos rostos que eu vi.
Visitei órfãos em situações menos que adequadas e soube que o sistema educacional de Ruanda é muito deficitário. Crianças têm acesso à terceira serie gratuitamente e depois disso custa o equivalente a 90 dólares americanos pra cada ano escolar. É interessante lembrar que o país tem 200 mil órfãos que não vão a escola! A renda anual per-capta é de $230 dólares por família, o que nos diz que a maioria das crianças não pode estudar, haja vista que cada família tem uma media de 6 filhos!

Durante 100 dias em 1994, corpos ficaram expostos em toda parte do país, e covas comunitárias foram abertas em muitas partes, para enterrar as centenas de pessoas assassinadas. Rios foram usados para carregar corpos para longe da cidade. Durante a nossa visita, soubemos que até hoje os Ruandeses ainda está descobrindo mais covas comunitárias, o que nos diz que o numero total do genocídio não esta nada perto de ser concluído. Talvez nunca seja! Tivemos a oportunidade de visitar um memorial e assistir um culto de sepultamento de restos mortais que havia acabado de ser encontrado e catalogado naquela semana. “Cada vez que um corpo é encontrado, revivemos a historia. É como um pesadelo que nunca se acaba” disse uma das pessoas ali.

Essa calamidade, chamada de Genocídio durou 100 dias e ao final desse período, mais de um milhão de pessoas haviam sido mortos de maneira absurda. O País vê esse período como “Os 100 dias que o mundo esqueceu” Nossa equipe promoveu 200 dias de oração por eles, clamando os versículos acima, pedindo a Deus que sare aquela terra.

Eu gosto muito de observar pessoas e seus comportamentos, e em Ruanda pude ver varias coisas, como dor e magoa por causada reação das autoridades internacionais na época. Representantes da ONU, por exemplo, viraram suas costas, fizeram vistas grossas e disseram: “Nós somos mantenedores da Paz, nós não fazemos paz. Se vocês não têm paz, não ha nada que possamos fazer” Outros como os Franceses, são acusados de atrair as massas, muitas vezes para igrejas e depois entregá-los nas mãos do inimigo.

Numa nota mais positiva, quero dizer que Deus têm seus fieis naquele lugar e Ele esta fazendo algo maravilhoso de restauração naquele lugar. somente vendo o tamanho do problema para entender que somente Deus pode transformar dor em esperança, e Ele esta fazendo isso.

Nossa equipe foi convidada pelo governo local para ensinar princípios de ética e liderança, trabalhar com parte das 60 mil viúvas e mulheres que sofreram abusos e buscar idéias para solucionar o dilema dos mais de 200 mil órfãos do genocídio.

Notei que os crentes nesse País tem muito orgulho de sua fé’ Tive ali entre os que quase nada tem, uma das maiores experiências de adoração e louvor que eu já vi. Um povo humilde, trabalhador e honesto, que muito me lembrou do povo do meu querido Brasil! Povo que não quer desistir da esperança que dias melhores virão.
As pessoas acreditam no poder da oração, carregam suas Bíblias com orgulho e clamam a Deus para que Ele sare a sua terra. Eles se cumprimentam com “Imana Shimwe” Louvado seja Deus! E isto sempre é seguido de um sorriso imenso!

Me senti muito abençoada em poder estar naquele País por esses 12 dias. Eu sei que eu tinha uma equipe maravilhosa orando por mim e pela nossa equipe, e por mais que eu tenha sentido a opressão ali, eu escolhi lembrar que havia pessoas orando por nós. Escolhi me lembrar que o Senhor está trabalhando em Ruanda e que Ele tem poder de dar a eles a chance de começar de novo, como Isaias diz, “Ele trás beleza das cinzas” e o nosso Deus gosta muito de fazer coisas assim.

Os proximos passos:
Ao final do meu tempo ali, eu sinto que Deus está trabalhando em Ruanda e o povo de Deus ali sabe disso. Vi que quando esperança é tudo que você tem, você percebe que se tem tudo que se precisa para recomeçar.

Há um apelo e todo País que diz: GENOCIDIO NUNCA MAIS e eu oro que isso seja real na vida de Ruanda.

Eu estou completamente apaixonada por aquele povo, que em sua simplicidade nos recebeu com tanta honra. Nos fizeram sentir tão bem e bem-vindos e que nos ouviram em áreas que nos poderíamos ajudar.

Minha vida foi enriquecida pela minha breve estadia lá. As lições que eu tirei dessa viagem?
Preciso depender mais de Deus e precisar menos de coisas materiais;
Preciso tirar o foco de mim e colocar o foco no que eu posso fazer para ajudar o meu próximo;
Preciso continuar a ser a voz dos que não tem voz e contar a estória deste povo, toda vez que eu tiver a oportunidade;
Eu preciso me preparar para o que Deus quer realizar através de oração, naquele país e ao redor do mundo, a começar onde eu estou agora.

Enquanto eu estava escrevendo esse relato, eu recebi um telefonema de Ruanda dizendo que o governo confirma querer implantar nosso sistema de liderança baseada em princípios Bíblicos em seu governo e também um convite para que nos voltemos a Ruanda em Agosto de 2007, para ver os resultados do que Deus esta fazendo naquele lugar.

Eu sei que nos não somos nada sem Cristo, e Ele usou a nossa equipe para coisas grandes que Ele esta fazendo em Ruanda. Eu louvo a Deus por isso. O Filme Hotel Ruanda mostra com veracidade a historia do genocídio, Pude ficar naquele mesmo hotel em Kigali. Vejam o filme!

Clama a mim, e responder-te-ei e anunciar-te ei, coisas grandes e firmes que não sabes.” Jeremias 33:3

“Por que eu sei dos planos que tenho pra vocês, diz o Senhor, planos de prosperidade e não de mal, de te dar um futuro e esperança Jeremias 29:11

Muito obrigada a cada um que tomou tempo para ler esse relato e eu te convido a se tornar um amigo de Ruanda, orando por esse país, pelo povo de Deus naquele lugar. Orem também pelo Sudão, e por Dafur, que passam por situações semelhantes.

Estando ali vi que o nosso Brasil é muito rico, nosso povo maravilhoso, apesar dos problemas que certamente tempos. De qualquer maneira, o povo de Ruanda ama o Brasil! Portas se abriram a mim quando souberam que eu era do Brasil! Temos uma ótima reputação!Vê-se “Ronaldinhos” andando pela cidade toda. Amam o nosso futebol, as nossas cores e foi bom falara pra eles que há brasileiros orando por eles também. Servimos o mesmo Deus, que é o mais importante!

Espero poder voltar a essa coluna com mais novidades das minhas viagens missionárias. Somos pessoas comuns, tentando coisas extraordinárias para um Deus sem comparação! Senhor. Junte se a nós. Ore por nós.

(Esta é a minha opinião pessoal e não necessariamente expressa a opinião do blog ou de seus administradores)

Imana Shimwe!

Grace Fragoso

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